Da série "fotógrafos que você precisa conhecer": Joel-Peter Witkin
- Alexandre
- 8 de nov. de 2023
- 2 min de leitura
Joel-Peter Witkin é um fotógrafos sem pares.

A obra de estadunidense octogenário é única e inconfundível. Aborda temas que manifestam-se nas artes desde sempre, como a morte, a religião e o sexo, usando padrões estéticos absolutamente originais; adota um discurso crítico da beleza artificial e padronizada ao escancarar o grotesco e o tétrico, ainda que - paradoxalmente - com singular leveza e senso estético. Frequentemente utiliza como referências a pintura e a escultura clássicas.

Witkin manteve por toda a sua vida uma relação próxima do escatológico e da finitude; ainda criança, presenciou um acidente de carro cujos corpos desmembrados causaram marcas indeléveis em seu modo de ver a vida. E sua experiência posterior na guerra do Vietnã, onde foi incumbido de documentar fotograficamente as mortes acidentais ocorridas em treinamentos militares, enveredou decisivamente seu trabalho na direção do extravagante e do bizarro. Por tais razões opta invariavelmente pelo uso de cadáveres e de modelos com deformidades em sua arte.


O fotógrafo não compõe ensaios; cada uma de suas imagens é realizada de maneira única, com laborioso método de execução, que se inicia com um esboço em papel, evoluindo para a meticulosa montagem do cenário completo e para a captura fotográfica, seguida de árdua pós produção na revelação dos negativos, que são então maltratados com agentes químicos e com ações físicas, gerando um acabamento final singular. Em função da complexidade de cada empreitada, jamais produziu mais que 12 imagens por ano.

Witkin criou uma linguagem inovadora e diferente, que simultaneamente aprisiona e espanta seus observadores; ganhou reconhecimento mundial dissolvendo limites através do surrealismo fotográfico. Apresenta sob perspectiva singular uma poética inovadora, distante do senso comum. É em algum ponto entre o depravado e o divino que encontra-se sua inspiração.


Em última análise, o que diferencia Witkin de todos os outros fotógrafos é a inquietação e o desejo de explorar aquilo que os demais tem pavor; desafia o lado negro, onde um vislumbre de luz é aprioristicamente autentico. Sua substância é o maior mistério da humanidade, a questão fundamental da vida e da morte. Suas narrativas são irrespondíveis como regra e reservadas a interpretações pessoais. Sua arte preenche de horror e singeleza as lacunas entre os sentidos e o intelecto, justificando o uso de uma linguagem sem paralelos na criação imagética.

Comentários