Fotógrafo cria polêmica ao devolver prêmio por foto gerada com inteligência artificial
- Alexandre
- 12 de dez. de 2023
- 3 min de leitura
Testar o quanto uma imagem gerada por inteligência artificial pode ser convincente a ponto de enganar jurados de um dos mais importantes concursos de fotografia do mundo e assim discutir o uso dessa tecnologia na produção de imagens foi o objetivo do fotógrafo alemão Boris Eldgadsen – e o teste deu positivo.

Anunciado vencedor na categoria Criação Aberta do Sony World Photo Awards com uma foto de duas mulheres em tons de sépia, ele recusou o prêmio e tomou a iniciativa de revelar que a imagem não preenchia os requisitos do concurso, pois havia sido gerada por inteligência artificial.
Eldgadsen deixou os organizadores em má situação, pois ele contou ter informado que a imagem não era autêntica mas ouviu deles que deveria ficar com o prêmio de qualquer forma, talvez para evitar que a capacidade dos jurados em perceber a farsa fosse exposta.

Não adiantou, pois ao divulgar a história em seu site, o alemão provocativo compartilhou detalhes de suas conversas com os organizadores, demonstrando que eles tinham todas as informações para tomar a decisão de rever o resultado antes que ele o fizesse.
E colocou o debate sobre o papel da inteligência artificial na fotografia em pauta: “Nós, do mundo da fotografia, precisamos de uma discussão sobre o que queremos considerar fotografia e o que não queremos. O guarda-chuva da fotografia é grande o suficiente para abrigar imagens feitas por inteligência artificial – ou isso seria um erro? Com minha recusa ao prêmio, espero acelerar esse debate.”
Baseado em Berlim, Eldgadsen não é um fotojornalista ou fotógrafo documental. Ele se apresenta como “um artista fotomídia que investiga a mente inconsciente”. E explica que seu trabalho usa arquétipos e atos simbólicos para falar a linguagem do inconsciente. O resultado são imagens oníricas que mais se parecem com quadros.
O fotógrafo relata que inscreveu o trabalho denominada Pseudoamnesia – Eletricistaem dezembro, em uma categoria que permitia o uso de “qualquer dispositivo”.
O título já era uma provocação: significa “memória falsa”.
Ao receber a noticia de que tinha sido premiado, ele disse ter enviado uma mensagem aos organizadores do concurso patrocinado pela Sony dizendo: “Os links solicitados (página da web e Instagram, histórico de exposições) mostram claramente que, após duas décadas de fotografia, meu foco artístico mudou cada vez mais para explorar as possibilidades criativas de geradores de IA [… ] Como não quero que haja mal-entendido, é importante explicar o plano de fundo da imagem escolhida com o máximo de detalhes possível. […] . Na Alemanha, sou ativo como especialista em IA no “Deutscher Fotorat” [fórum de debates] para discutir as chances e os riscos dos geradores de imagens de IA. Talvez a Sony esteja interessada em abordar o tema para um painel de discussão neste contexto.”
O alemão iniciou tentativas de convencer a Sony a tratar do assunto publicamente por várias semanas, sem sucesso. Quando os vencedores foram anunciados ao público, na semana passada, ele recebeu um pedido de mais informações sobre a foto por parte da assessoria de imprensa do concurso e mandou uma declaração.
Mas disse que ela não foi usada na divulgação.
Depois que tornou o caso púbico em seu site e a notícia repercutiu na mídia, a imagem foi retirada do site da Sony e da Sommerset House, onde as fotos vencedoras estão expostas.
No site do fotógrafo, a foto em destaque é a do concurso, com uma tarja em cima avisando que o prêmio foi recusado.
O alemão disse em seu manifesto que seu trabalho resulta na produção de “imagens” criadas sinteticamente, usando “o fotográfico” como linguagem visual.
“Não são “fotografias”, afirma.
Ele defende que organizadores de prêmios de fotografia se conscientizem dessa diferença e criem concursos separadospara imagens geradas por inteligência artificial.
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