Toda fotografia possui significado!
- Alexandre

- 26 de mar. de 2023
- 2 min de leitura
Quase todo mundo conhece a etimologia da palavra fotografia: o termo vem da junção de duas palavras gregas, "foto" = luz e "grafia" = escrita. Fotografia equivale a "escrever com a luz".
Até aí novidade alguma.
O que quase ninguém sabe é que, graças ao genial Boris Kossoy, grande fotógrafo, arquiteto e historiador brasileiro, sabe-se que o termo fotografia foi cunhado no Brasil por Hercule Florence, um francês que viveu muitos anos na região de Campinas e que foi um dos precursores da fixação das imagens projetadas em uma câmera escura; foi Kossoy que provou que a fotografia foi inventada simultaneamente em diversos lugares - inclusive no Brasil.
É evidente que não pode haver fotografia sem luz. É a luz que, ao incidir sobre o objeto retratado, dá vida à imagem.
Porém, tão importante quanto a luz, é a mensagem, ou seja, a "grafia". Infelizmente a mensagem fotográfica tem sido gradativamente menosprezada; na invasão imagética cotidiana, o que mais existe são fotos tão bonitas quanto ocas de significado. Cada vez mais softwares de tratamento de imagens, filtros de Instagram e de smartphones permitem que os registros fotográficos ganhem em estética, todavia sem nenhuma preocupação com seu conteúdo.
Esse fenômeno é desdobramento da digitalização da fotografia; à época analógica era preciso pensar antes de clicar - cada foto tinha um custo alto, pois os filmes não eram baratos, e a imagem retratada não podia ser visualizada logo após ser produzida. Era preciso esperar pela revelação. Hoje é comum um fotógrafo fazer duas, três mil imagens em um evento, para depois aproveitar cinco por cento disso.
Como afirma a crítica fotográfica ítalo-brasileira Simonetta Persichetti, "nunca se fotografou tanto como hoje, nem nunca se fotografou tanto sem pensar naquilo que é retratado"; é ela que brilhantemente desdobrou as ideias de Vilém Flusser e chama essa chuva de imagens vazias de "manchas fotográficas".
Como bem definiu a pensadora Susan Sontag, "nem toda fotografia é arte, O registro fotográfico é legitimo mesmo vazio de pretensões artísticas". A massificação da fotografia é salutar; atualmente esta atividade está difundida em todo o mundo. Quase todas as pessoas andam com uma câmera fotográfica no bolso. Porém do outro lado dessa balança paga-se o preço da popularização da técnica da escrita com a luz; sua vulgarização tem comprometido o sentido fundamental da fotografia enquanto linguagem.
Fotografia é, antes de tudo, uma gramática das imagens. Assim uma fotografia sem mensagem equivale a um emaranhado de letras sem nenhum sentido.
A sociedade do consumo efêmero e rápido carrega o risco de, cada vez mais, falar e escrever superficialmente, escutar músicas sem nenhum conteúdo subversivo e gerar imagens que não vão além da beleza passageira.
Tempos sombrios em que as linguagens são difundidas à mesma medida em que suas mensagens são esquecidas.
(Foto tirada em Mulungu, Paraíba, que retrata a simplicidade colorida e o asseio despretensioso do sofrido e querido povo nordestino)





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